Cruzeiro do Sul, Acre, 25 de abril de 2024 15:01

Palmeiras descarta Blackstar por “documentos falsos”; capital social é de apenas R$ 5 mil

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Por Leonardo Lourenço e Martín Fernandez — São Paulo

A Blackstar International, empresa que ofereceu ao Palmeiras um contrato de patrocínio no valor de R$ 1 bilhão por dez anos, tem um capital social equivalente a R$ 5 mil, segundo documentos públicos de Hong Kong, país onde ela tem sede, consultados peloGloboEsporte.com.

Em entrevista ao Seleção SporTV, o presidente do Palmeiras, Maurício Galiotte, afirmou que a empresa apresentou documentos falsos ao clube. Segundo o dirigente, o banco HSBC, consultado, declarou que a Blackstar não é cliente da instituição. Na proposta, a Blackstar incluiu uma suposta garantia bancária do HSBC.

– Neste momento o Palmeiras encerra qualquer tipo de diálogo, por total falta de credibilidade. O Palmeiras foi buscar junto ao banco. Acabamos de receber uma carta do banco HSBC dizendo que os documentos apresentados ao Palmeiras são falsos – afirmou Galiotte, em entrevista ao Seleção SporTV.

Reprodução do e-mail enviado pelo HSBC ao diretor jurídico do Palmeiras, informando que a garantia bancária apresentada pela Blackstar é falsa — Foto: ReproduçãoReprodução do e-mail enviado pelo HSBC ao diretor jurídico do Palmeiras, informando que a garantia bancária apresentada pela Blackstar é falsa — Foto: Reprodução

Reprodução do e-mail enviado pelo HSBC ao diretor jurídico do Palmeiras, informando que a garantia bancária apresentada pela Blackstar é falsa — Foto: Reprodução

Documento de Hong Kong mostra quem é o presidente e qual é capital social da Blackstar: 10 mil dólares de Hong Kong, equivalente a R$ 5 mil — Foto: ReproduçãoDocumento de Hong Kong mostra quem é o presidente e qual é capital social da Blackstar: 10 mil dólares de Hong Kong, equivalente a R$ 5 mil — Foto: Reprodução

Documento de Hong Kong mostra quem é o presidente e qual é capital social da Blackstar: 10 mil dólares de Hong Kong, equivalente a R$ 5 mil — Foto: Reprodução

O presidente da Blackstar, empresa aberta em 22 de janeiro de 2018, é Arsim Shefkiu, cidadão da Macedônia com residência na Flórida, EUA. Nove meses depois de fundada, a companhia passou a ter outros dois diretores, ambos brasileiros: Carlos Giovanni Mello e Rubnei Quícoli – este, o responsável por apresentar a proposta de patrocínio ao Palmeiras.

Tanto Mello quanto Quícoli foram formalmente incorporados à Blackstar no dia 23 de outubro de 2018. A proposta apresentada ao Palmeiras, assinada por Quícoli, que se apresenta como diretor financeiro da Blackstar, tem data de 19 de setembro de 2018 – portanto mais de um mês anterior à entrada dele na empresa.

Na oferta ao Palmeiras, Quícoli se identifica como morador de Campinas, no interior de São Paulo. Nos documentos da Blackstar em Hong Kong, o empresário registrou como endereço um imóvel em Fort Lauderdale, na Flórida.

No cadastro da Blackstar no Registro de Companhias de Hong Kong, órgão estatal do país asiático, consta como endereço da empresa o mesmo da sede da One IBC, uma incorporadora de companhias de Hong Kong.

Documento de Hong Kong mostra entrada de Quícoli na Blackstar em 23 de outubro de 2018 — Foto: ReproduçãoDocumento de Hong Kong mostra entrada de Quícoli na Blackstar em 23 de outubro de 2018 — Foto: Reprodução

Documento de Hong Kong mostra entrada de Quícoli na Blackstar em 23 de outubro de 2018 — Foto: Reprodução

Proposta da Blackstar para o Palmeiras foi apresentada em setembro um mês antes da entrada de Quícoli na Blackstar — Foto: ReproduçãoProposta da Blackstar para o Palmeiras foi apresentada em setembro um mês antes da entrada de Quícoli na Blackstar — Foto: Reprodução

Proposta da Blackstar para o Palmeiras foi apresentada em setembro um mês antes da entrada de Quícoli na Blackstar — Foto: Reprodução

Além de Quícoli e Mello, também é listado como diretor da Blackstar desde novembro Yong Hee Cho, um sul-coreano com domicílio na Indonésia. De acordo com os registros, apenas Shefkiu, o fundador, é detentor de cotas na empresa, num total de 10 mil dólares de Hong Kong, o equivalente a R$ 5 mil na cotação atual.

Numa entrevista ao GloboEsporte.com publicada na última sexta-feira (14 de dezembro), Quícoli disse que a Blackstar era uma “holding” que abrigava várias empresas com sede tanto nos EUA quanto no Brasil. Ele não revela quais marcas seriam utilizadas numa hipotética parceria com o Palmeiras.

O chefe do presidente

Na carta de inteções entregue a Genaro Marino, que em novembro foi derrotado na eleição do Palmeiras por Maurício Galiotte, a Blackstar é descrita como um grupo com atuação no “mercado de energia e bioenergia”. À reportagem, Quícoli citou a holding como controladora de uma empresa que seria fabricante de aviões (e peças de avião) instalada na Flórida.

Uma pesquisa nos registros de empresas daquele estado americano revela a existência da Eco Aeronautics Inc, com sede em Deerfield Beach, com três executivos identificados: Carlos Giovanni Melo como CEO (diretor executivo), José Cyrillo Vergara como CTO (diretor de tecnologia) e Rubnei Quícoli como CFO (diretor financeiro).

A Eco Aeronautics se dedica a construir kits para aviação experimental – aviões que o operador compra, monta e voa por conta própria. A empresa anuncia em seu site um avião de seis lugares por US$ 600 mil (R$ 2,4 milhões). Um modelo “tão compacto que você pode remover as asas e guardar na sua garagem antes de voar de novo”. A companhia se apresenta como concorrente, no mercado de aviões pequenos, de empresas como Bombardier, Gulfstream, Dassault e Cessna.

Rubnei Quícoli, que se apresenta como representante da Blackstar Limited International, recebeu uma camisa do Palmeiras com seu nome após visita a Paulo Nobre, na época que este era presidente do clube — Foto: Reprodução / Twitter

Rubnei Quícoli, que se apresenta como representante da Blackstar Limited International, recebeu uma camisa do Palmeiras com seu nome após visita a Paulo Nobre, na época que este era presidente do clube — Foto: Reprodução / Twitter

No mesmo endereço, com o mesmo telefone e os mesmos executivos está localizada a Space Exploration Limited. Esta empresa tem como vice-presidente de operações um macedônio residente na Flórida chamado Arsim Shefkiu – o mesmo homem que se apresenta como presidente da Blackstar, a holding de Hong Kong que oferece um contrato bilionário ao Palmeiras.

A reportagem telefonou para o número da Space Explorations (o mesmo da Eco Aeronautics). Quem atendeu foi o diretor de tecnologia, José Cyrillo Vergara. Ele disse que não poderia dar informações e que a pessoa mais indicada para falar sobre Palmeiras e Blackstar era Carlos Giovanni Mello, que naquele momento estava “no trabalho”.

Cyrillo pediu o telefone da reportagem para repassar a Mello, que telefonaria de volta. Em vez disso, quem enviou mensagens de Whatsapp foi Rubnei Quícoli, que havia sido informado por Cyrillo e Mello de uma tentativa de contato por parte do GloboEsporte.com. Primeiro, ele escreveu: “Vai devagar ok”. E em seguida mandou uma mensagem de voz:

– Se mexer com informação que está nos EUA eu processo vocês lá nos EUA, ok? Essa brincadeira já está se estendendo demais. Não tenho mais interesse em passar nenhuma informação. Agora é só entre eu e o Palmeiras – disse.

A reportagem também telefonou e escreveu para o Arsim Shefkiu. O macedônio é o presidente da Blackstar. Ou seja, na teoria está acima de Carlos Mello e Rubnei Quícoli na holding com sede em Hong Kong. Mas se apresenta como vice-presidente da Space Exploration, empresa que tem Mello como CEO.

O macedônio encaminhou a mensagem para Quícoli, que então escreveu um longo e-mail ao GloboEsporte.com, reclamando que a reportagem havia tentando “invadir a privacidade da empresa” e novamente ameaçando de processos nos EUA.

Proposta descartada

No final de semana, o assunto ganhou contornos políticos ainda mais fortes no Palmeiras. O ex-presidente Paulo Nobre, cujo grupo foi derrotado na última eleição, escreveu uma série de tuítes nos quais explica a relação com Rubnei Quícoli e revela torcida para que Blackstar e Crefisa (a atual patrocinadora) possam “conviver juntas”.

Paulo Nobre OFICIAL

@PauloNobre2011

Ñ tenho conhecimento suficiente pra emitir qualquer opinião sobre o Sr Rubnei nem tão pouco sobre a empresa BlackStar, mas como palmeirense, fico MUITO honrado e orgulhoso de grandes empresas verem no Palmeiras um parceiro comercial

Paulo Nobre OFICIAL

@PauloNobre2011

Todo palmeirense tem a obrigação de levar tudo q possa ser bom pra SEP, e cabe a quem tiver o comando, fazer as devidas diligencias e avaliar se é produtivo ou ñ antes de assinar uma parceria! Torço q Crefisa, FAM e BlackStar, se aprovada, possam conviver juntas dentro da SEP!

Oficialmente, o Palmeiras não havia se pronunciado sobre o assunto até a entrevista de Galiotte ao Seleção SporTV desta segunda-feira.

A proposta da empresa de Hong Kong nunca foi levada a sério dentro do clube, por ser considerada inconsistente. A diretoria queria se cercar de cuidados políticos antes de descartar formalmente o negócio, o que acabou acontecendo nesta segunda-feira.

Até houve uma reunião entre representantes do Palmeiras e da Blackstar, mas o encontro foi no escritório particular do diretor jurídico Alexandre Zanotta, e não na sede do clube. Depois disso, Zanotta enviou uma série de questionamentos a Rubnei Quícoli, que preferiu não responder.

No final de semana, Quícoli distibuiu textos e áudios para seus contatos no WhatsApp em que chamava o presidente do Palmeiras, Maurílio Galiotte, de “patético” – entre outras ofensas. O empresário disse ainda que embarcaria para os EUA e só voltaria a tratar do assunto em janeiro.

Assim que encerrar a negociação com a Blackstar, o Palmeiras vai renovar seu contrato de patrocínio com a Crefisa por mais três anos. Leila Pereira, dona da empresa, se tornou conselheira recentemente numa manobra política contestada dentro do clube. E é provável candidata a presidente nas próximas eleições.