Em todo o estado 14 eleitores vão poder usar o nome social no título de eleitor. Transexuais destacam que medida não é um privilégio e sim um direito.
Trans que vão votar com nome social relembram constrangimento nas últimas eleições
Este ano, pela primeira vez no país, os eleitores vão ter o direito de votar usando o nome social que é como travestis, transexuais ou transgêneros preferem ser identificados ao invés do nome oficial no registro. A medida foi regulamentada em abril deste ano pela Justiça Eleitoral.
No Acre, 14 eleitores vão votar pela primeira vez usando o nome social no título eleitoral, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em todo o Brasil 6.280 eleitores que vão votar com o nome social.
Mas nem sempre foi dessa maneira. O estudante de direito Murilo Augusto Neto, de 24 anos, e a assistente de gabinete e militante LGBT Rubby Rodrigues, são transexuais e relatam o constrangimento de votar em eleições anteriores.
Rubby comemora direito de votar usando o nome social — Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre
Rubby conta que a apresentação de documentos com o nome de registro causava a ela constrangimentos em atendimentos médicos e em órgãos públicos.
“Muitas vezes eu chegava até o atendimento e a moça dizia: cadê o fulano? ele veio com você? você é acompanhante?”, relata a assistente de gabinete do Ministério Público do Acre (MP-AC).
Na hora de votar o constrangimento e o preconceito também se faziam presente. Rubby lembra um fato que a marcou na última eleição quando apresentou um documento com uma foto antiga.
“O rapaz disse assim: ‘não senhora, você não pode votar por outra pessoa. Eu fiquei em choque. Eu pensei assim, será que estou cometendo um crime e não sabia?”, lembra.
A assistente de gabineta destaca que as pessoas ainda não entendem que a essência não está na nossa aparência e comemora o direito de votar com dignidade.
“A gente não quer forçar as pessoas a serem isso ou ser aquilo. A gente só pede que as pessoas nos reconheça pela identidade. É uma satisfação, uma alegria, um reconhecimento de dignidade”, destaca.
Piadinhas
Neto também relata que passou por vários casos de constrangimento e diz que sempre conviveu com o preconceito na escola, na família e nos locais que frequenta.
“As piadinhas referentes ao fato de eu ser um homem transexual. As pessoas ficam com piadinhas. E falam coisas como ‘ah, tu quer ser homem, quer ter prioridades’”, conta.
Estudante de direito destaca que direto de votar usando nome social não é um privilégio, mas um direito — Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre
O estudante de direito lembra que também sofreu com o preconceito ao exercer o direito de votar. Segundo ele, a mesária olhava para o documento com o nome de registro e ficava em dúvida se ele realmente era a pessoa que estava na frente dela.
“Tinha até dificuldade de me mandar pra cabine de votação. Era um constrangimento total”, lamenta.
Neto comemora a mudança para os eleitores transexuais. “Não é um privilégio. É um direito”, afirma o estudante de direito.
Procuradora de justiça diz que medida do TSE é um direito garantido na Constituição — Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre
Direito
Esse tipo de situação é um desrespeito e fere a Constituição, segundo o Ministério Público do Acre (MP-AC). A procuradora de justiça Patrícia Amorim Rêgo destaca que todo ser humano tem o direito de ser aquilo que ele realmente é e aquilo com o qual se identifica.
“Ele pode e deve se expressar. A nossa Constituição garante isso e com a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é a afirmação de cidadania e a garantia dos direitos dessa população”, afirma.
O diretor do Tribunal Regional Eleitoral no Acre (TRE-AC), Carlos Venícius destacou que na própria urna eletrônica o que vai aparecer para o mesário é o nome social e a fotografia atual do eleitor.
“Então, só por isso, o constrangimento já fica muito mitigado. Mas mesmo assim essas pessoas [mesários] serão treinadas e orientadas pra que nada ocorra e pra que nada faça com que esse eleitor se sinta constrangido de votar”, destaca.
Diretor do TRE-AC diz que mesários vão ser treinados e orientados para evitar situações de constrangimento — Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre
fonte:G1/Acre