Cruzeiro do Sul, Acre, 26 de abril de 2024 01:09

No AC, transexuais relembram constrangimento em eleições anteriores e comemoram direito de votar usando nome social

Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on whatsapp
WhatsApp
Trans que vão votar com nome social relembram constrangimento nas últimas eleições

Trans que vão votar com nome social relembram constrangimento nas últimas eleições

Este ano, pela primeira vez no país, os eleitores vão ter o direito de votar usando o nome social que é como travestis, transexuais ou transgêneros preferem ser identificados ao invés do nome oficial no registro. A medida foi regulamentada em abril deste ano pela Justiça Eleitoral.

No Acre, 14 eleitores vão votar pela primeira vez usando o nome social no título eleitoral, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em todo o Brasil 6.280 eleitores que vão votar com o nome social.

Mas nem sempre foi dessa maneira. O estudante de direito Murilo Augusto Neto, de 24 anos, e a assistente de gabinete e militante LGBT Rubby Rodrigues, são transexuais e relatam o constrangimento de votar em eleições anteriores.

Rubby comemora direito de votar usando o nome social — Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre

Rubby comemora direito de votar usando o nome social — Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre

Rubby conta que a apresentação de documentos com o nome de registro causava a ela constrangimentos em atendimentos médicos e em órgãos públicos.

“Muitas vezes eu chegava até o atendimento e a moça dizia: cadê o fulano? ele veio com você? você é acompanhante?”, relata a assistente de gabinete do Ministério Público do Acre (MP-AC).

Na hora de votar o constrangimento e o preconceito também se faziam presente. Rubby lembra um fato que a marcou na última eleição quando apresentou um documento com uma foto antiga.

“O rapaz disse assim: ‘não senhora, você não pode votar por outra pessoa. Eu fiquei em choque. Eu pensei assim, será que estou cometendo um crime e não sabia?”, lembra.

A assistente de gabineta destaca que as pessoas ainda não entendem que a essência não está na nossa aparência e comemora o direito de votar com dignidade.

“A gente não quer forçar as pessoas a serem isso ou ser aquilo. A gente só pede que as pessoas nos reconheça pela identidade. É uma satisfação, uma alegria, um reconhecimento de dignidade”, destaca.

Piadinhas

Neto também relata que passou por vários casos de constrangimento e diz que sempre conviveu com o preconceito na escola, na família e nos locais que frequenta.

“As piadinhas referentes ao fato de eu ser um homem transexual. As pessoas ficam com piadinhas. E falam coisas como ‘ah, tu quer ser homem, quer ter prioridades’”, conta.

Estudante de direito destaca que direto de votar usando nome social não é um privilégio, mas um direito — Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre

Estudante de direito destaca que direto de votar usando nome social não é um privilégio, mas um direito — Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre

O estudante de direito lembra que também sofreu com o preconceito ao exercer o direito de votar. Segundo ele, a mesária olhava para o documento com o nome de registro e ficava em dúvida se ele realmente era a pessoa que estava na frente dela.

“Tinha até dificuldade de me mandar pra cabine de votação. Era um constrangimento total”, lamenta.

Neto comemora a mudança para os eleitores transexuais. “Não é um privilégio. É um direito”, afirma o estudante de direito.

Procuradora de justiça diz que medida do TSE é um direito garantido na Constituição  — Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre

Procuradora de justiça diz que medida do TSE é um direito garantido na Constituição — Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre

Direito

Esse tipo de situação é um desrespeito e fere a Constituição, segundo o Ministério Público do Acre (MP-AC). A procuradora de justiça Patrícia Amorim Rêgo destaca que todo ser humano tem o direito de ser aquilo que ele realmente é e aquilo com o qual se identifica.

“Ele pode e deve se expressar. A nossa Constituição garante isso e com a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é a afirmação de cidadania e a garantia dos direitos dessa população”, afirma.

O diretor do Tribunal Regional Eleitoral no Acre (TRE-AC), Carlos Venícius destacou que na própria urna eletrônica o que vai aparecer para o mesário é o nome social e a fotografia atual do eleitor.

“Então, só por isso, o constrangimento já fica muito mitigado. Mas mesmo assim essas pessoas [mesários] serão treinadas e orientadas pra que nada ocorra e pra que nada faça com que esse eleitor se sinta constrangido de votar”, destaca.

Diretor do TRE-AC diz que mesários vão ser treinados e orientados para evitar situações de constrangimento — Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre

Diretor do TRE-AC diz que mesários vão ser treinados e orientados para evitar situações de constrangimento — Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre

fonte:G1/Acre