Para Jerome Cadier, situação deve durar até as demais aéreas conseguirem autorização para suprir a demanda de voos
As passagens aéreas estão mais caras. Há quem diga que o encolhimento da Avianca é a causa disso. Concorda?
Os preços estão mais altos. O aumento, no entanto, não tem a ver com concentração. Há menos aviões circulando no Brasil. A Avianca tinha cerca de 50 aeronaves no início do ano. Hoje, opera com sete. É uma queda grande.
Daria para segurar os preços mesmo com a crise na oferta?
– O modelo de precificação das companhias aéreas faz a seguinte comparação: 15 dias antes de um voo, quantos assentos estão vendidos? Se está muito cheio, o preço sobe. Se está vazio, o preço permanece baixo. Se temos menos assentos à disposição porque há menos aviões voando no Brasil, o sistema entende que os voos estão mais cheios que a média. Por isso, o preço sobe. Até os aviões voltarem a operar no Brasil, a gente vai ter tarifa mais alta.
O aumento das tarifas é maior em alguma rota?
– Nas rotas em que a Avianca não operava os preços não mudaram porque a oferta de assentos continuou igual. O efeito foi sentido em rotas em que ela era muito relevante, como em Guarulhos, Congonhas, Santos Dumont e Brasília.
Por quanto tempo os preços vão seguir elevados?
– Até conseguir trazer um número parecido com 43 aviões ao mercado brasileiro, teremos no mínimo quatro a seis meses de preços mais altos. Desde a crise da Varig, em 2004 e 2005, não vemos um momento tão importante na aviação brasileira. A quebra de uma companhia como a Avianca não consegue ser absorvida rapidamente pelas concorrentes. É óbvio que a gente quer transportar mais passageiros e que a tarifas mais baixas atraem mais passageiros. Por outro lado, no ano passado os custos de operação das aéreas subiram 25% no país, entre valorização do dólar e o aumento no preço do combustível. As tarifas subiram só 1%. Isso explica os problemas da Avianca. A gente precisa saber disso para saber que absorver uma crise desse tamanho não é algo rápido.
Por que a crise vai ser longa?
– As concorrentes querem suprir a demanda deixada pela Avianca, mas isso demora. Estamos remanejando aviões da Latam em outros países para o Brasil, mas isso depende de mudanças de contratos com as empresas de leasing e assinar toda a papelada para que esses aviões tenham autorização de voar aqui.
A Latam já definiu o tamanho dessa nova frota?
– Ainda não. Queremos ter o máximo possível, mas isso depende da disponibilidade de aviões no mercado e da segurança jurídica do leilão (de ativos da Avianca). Não vou trazer avião para rotas em que a Avianca não operava.
Quais ativos da Avianca interessam à Latam?
– A gente não vai comprar todas as UPIs (Unidades Produtivas Isoladas, fatias da empresa que serão ofertadas em leilão). A que mais interessa é a UPI B (com 22 slots, que são autorizações de pouso e decolagem, em Guarulhos, 15 em Congonhas e oito no Santos Dumont), que combinam com as rotas que já operamos.
Em entrevista ao GLOBO, o presidente da Azul disse que Latam e Gol vão participar do leilão da Avianca para barrar a presença da Azul em Congonhas. O que o senhor pensa das declarações?
– É um discurso pouco aderente à realidade. A Azul está livre para participar de qualquer leilão. Ela pode muito bem levar todas as UPIs. Dizer que falta concorrência no espaço aéreo brasileiro é uma narrativa falsa.